sábado, 7 de janeiro de 2012

Gravidez fora da norma




Quando tomei conhecimento que minha filha de 19 anos estava grávida fui impactada de tal forma que quase não conseguia raciocinar sobre o que estava acontecendo. Num primeiro momento compartilhamos apenas com a nossa família nuclear seguido pela nossa médica ginecologista.
Foram dois dias que nos parecia, como disse meu marido, que alguém tinha nos acertado a cabeça pelas costas. Sentíamos o efeito da “porrada” sem saber como e nem de onde veio.
Pensar sobre o inesperado, inimaginável e improvável daquele episódio que naquele momento era tão real e concreto quanto tudo que nos rodeava, me levava a questionamentos diversos.
Como uma jovem além de bem informada e bem formada, com uma relação de abertura e confiança com os pais, que teve seu início da vida sexual acompanhado, orientado, acolhido e assegurado pode viver uma situação dessas?
Atônita com tudo isso me perguntava o que faltou para que minha filha tivesse se prevenido dessa gravidez fora de hora. Como se tentasse buscar explicação para o fato que nos arrebatava a todos, e especialmente a ela.
Os meus pensamentos eram invadidos pelas “verdades” conhecidas diante de uma gravidez “fora da norma”. Verdades como, minha filha acabou com a vida dela, seus sonhos e projetos escorreram pelo ralo de uma maternidade prematura. Como será o seu futuro com um filho sem a participação de um companheiro para fechar a outra ponta desta tríade? Já que ela não estava mais se relacionando que o pai da criança. Que por sua vez, assim como ela, também é muito jovem.
Entretanto, não é isto que quero compartilhar com vocês, pois este é o enredo conhecido por todos quando acontece esse tipo de situação fora dos padrões socialmente estabelecidos.
O que hoje posso analisar e publicar como uma reflexão de quem está vivendo por dentro essa experiência é que nós temos escolhas e podemos viver o inesperado com alegria.
Foi isso que nós quatro, minha filha gestante, meu marido, minha filha mais velha e eu, descobrimos depois de dois dias de muito diálogo e acolhimento uns com os outros.
Mari, a futura mamãe, concluiu que a melhor decisão para a vida dela era a manutenção da gravidez, pois segundo suas próprias análises, compartilhadas por nós, não ter esse filho seria uma decisão egoísta e que geraria um impacto negativo para sua vida muito maior que ter.
Nesse momento, como se uma pedra monumental que carregávamos sobre nossas cabeças se dissolveu.


Entendemos todos que aqueles questionamentos não passavam de obediência a normas sociais que muitas vezes estão mais preocupadas em manter a acomodação das relações sociais do que com o bem estar e felicidades das pessoas. Sujeitos que podem reger suas vidas e fazerem opções de formas muito diversas.
Nós, família, nos abrimos para essa novidade que chegava e nos colocamos como parceiros e apoiadores desse fato não projetado.



Entendemos que aquela gestação, que chegou nas vidas de todos nós, estava posta e que é possível olhar amorosamente para tudo isto e esperar essa criança com essa mesma amorosidade.



E é obvio que muitas coisas se processaram nas nossas vidas! Eu particularmente tive a oportunidade de resgatar muitas coisas. Pude olhar para minha própria história e perceber a forma desinformada com que vivi minhas gestações. Desinformação que hoje vejo que é muito mais comum do que pode parecer.



O que nós mulheres, ditas informadas, sabemos é o que o mundo social, midiático, médico querem que saibamos. E como já falei no meu texto “Parto normal – Onde está a anormalidade? O que circula é a (dês)infromação da gravidez medicalizada, do parto cirúrgico como o melhor, etc.



Com minha filha tive a possibilidade de apoiá-la na busca de informação para uma gestação e um parto mais saudáveis. Olhamos essa gestação como um momento especial nas nossas vidas.



Agora depois de todo esse processar descobrimos que apesar dessa gravidez ter acontecido sem planejamento não precisa ser um desastre que acaba com a vida da minha filha. Os projetos e sonhos dela não findaram, eles apenas mudaram o seu cronograma e incluíram uma nova pessoa.



O que eu e meu marido descobrimos é que o que destrói os sonhos e projetos de uma garota jovem demais que fica grávida sem planejamento é a falta de apoio e afeto por parte da sua família, que age muito mais preocupada em cumprir o script pré estabelecido para “pais zelosos” diante daquilo que estou chamando de “gravidez fora da norma”.



Isso sim é uma bomba nas vidas das pessoas! E vejam bem, não defendo que a gravidez nestas circunstâncias seja um exemplo a ser seguido ou uma meta a ser buscada. Muito pelo contrário. Sem sombra de dúvida que um preço alto, pago com a assunção de responsabilidades prematuras, abrindo mão de muitas (não de todas) festas e farras típicas da sua idade, com a necessidade de cuidar e educar uma criança quando ainda está sendo cuidada e educada.



O que quero dizer é que nós, pais e mães, familiares em geral, não precisamos aumentar o peso dessa responsabilidade, ampliar a carga de esforço e sofrimento, quase como uma punição por esse sexo explicitado pela gravidez.



Entendo hoje que os pais e mães reagem a essa situação com atitudes que demonstrem ao mundo social que esse “mal passo” da sua filha não é compactuado por eles e por isso não cabe nesse momento nem alegria, nem alivio de sofrimento. Cabe apenas rigidez, dureza, negação de satisfação e prazer, além de demonstrações constantes da inadequação da situação. A vergonha da exposição da barriga que teima em crescer e impor sua presença marca a vida dessas jovens mulheres.



O que posso perceber também nesse processo é que toda essa forma de reagir gera sofrimento também para os pais e mães, futuros avós que abortam das suas vidas a grande alegria de acompanhar e curtir a gestação de um neto ou neta.



Não acho que engravidar sem planejamento, muito jovem e sem um parceiro seja bom, mas se apesar de todos os cuidados essa gravidez acontece, viver ela com amor e alegria. Apoiar e cuidar da sua filha, futura mamãe faz toda diferença. Transmuta uma catástrofe existencial em uma grande e feliz experiência humana.



O amor, cuidado, carinho e apoio, passam a gerir a vida da futura mamãe, do se bebê e de todos que participam direta ou indiretamente desse processo. O amor é sempre a melhor forma de vivenciarmos as nossas experiências e relações interpessoais.