terça-feira, 1 de novembro de 2011

Violência sexual e suas complexidades

Usualmente quando tratamos da violência sexual fazemos como se estivéssemos olhando a vida das pessoas envolvidas no fato violento numa única cena. E não por acaso que estas cenas estão, via de regra, congeladas em atos em que temos mulheres no papel da vítima e os homens no de agressores destas.
Basta buscarmos qualquer estatística que retrata essa realidade para entendermos que as pessoas do sexo feminino são as maiores vítimas e os homens os seus maiores agressores. Fato denunciado pelos movimentos de mulheres e feministas em especial desde a década de 70 do século passado. Das pessoas vitimadas sexualmente atendidas no Viver em 2009 88% são do sexo feminino e 99% dos agressores do sexo masculino.
Entretanto basta ampliarmos um pouco mais o nosso olhar para percebermos que precisamos abrir a nossa câmara para outras cenas sob pena de ficarmos presos a uma realidade importante, mas que não fala tudo do fenômeno. Precisamos complexificar a figura do homem nessa cena. Assim como fizemos com as mulheres, ou seja, primeiro percebemos que não era possível falar desse sujeito social no singular, pois a diversidade de mulheres exigia que fossem tratadas no plural demarcando a multiplicidade de sujeitos incluídos nessa categoria. Posteriormente, entendendo que as questões postas não estavam inscritas na natureza dessas tantas mulheres e buscando marcar as construções sociais que definem os comportamentos e valores do que é ser feminina ou masculino, passou-se a utilizar a categoria gênero.
Assim como não é por acaso a escolha da cena, não é por acaso que o foco de luz esteja posto sobre as mulheres, apresentando de forma tão simplista os homens nessa cena. Efetivamente são as mulheres as que sofrem as piores conseqüências dessa situação, provocada pela relação desigual de submissão e exploração. E por essa razão foram as próprias mulheres que foram as ruas, a imprensa e posteriormente às academias denunciar esta situação e reivindicar a garantia de direitos para as suas iguais e para si mesmas. Desta forma tem toda lógica que essa luz esteja totalmente focada nas mulheres, mas sem perder o foco já colocado nesses sujeitos sociais precisamos possibilitar que uma nova luz ilumine outro protagonista dessa cena.
Evidentemente que não podemos confundir essa iluminação como um processo de minimização de responsabilidade ou de amenização das possíveis razões que levam os homens a cometerem atos violentos contra mulheres. Mas se temos o interesse objetivo de compreensão do fenômeno e de buscar intervenções que efetivamente promovam transformações nas relações sociais entre mulheres e homens não podemos continuar jogando o véu que invisibiliza esses homens, simplificando o nosso olhar para eles apenas como agressores.
Entendo que o próximo passo nesse fenômeno da violência sexual é rodarmos a câmera no nosso Sting de filmagem e olharmos os homens agressores de forma mais complexa, para além da história da violência.
Finalizando quero evidenciar que a proposta de incluir os homens de forma mais complexa no estudo da violência sexual não exclui em nada toda luta pela responsabilização dos agressores, só nos possibilita olharmos para eles de forma menos simplistas e darmos alguns passos à frente na compreensão desse fenômeno tão complexo e de difícil apreensão.




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