segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Onde foi parar o afeto?

A notícia de que minha filha mais nova está grávida e consequentemente que serei avó, me trouxe muitas reflexões e ainda me traz.
Foi uma surpresa nas nossas vidas que depois do susto inicial tem sido motivo de muita alegria. Sem dúvida com os impactos gerados pelas mudanças de planos. Isso porque teimamos em acreditar que temos o controle sobre a vida e que por isso podemos confiar nos nossos projetos com total segurança.
A vida não é assim! Ela tem uma dinâmica para além das aparências e cegos não conseguimos ver, apesar das demonstrações diárias dessa “vida própria” da própria vida.
Pretendo aos poucos compartilhar essas tantas reflexões que Maria tem proporcionado na minha vida. Sim minha neta será simplesmente Maria, elegantemente simples, como a mãe dela, minha filha Mariana.
Nesse momento quero refletir sobre o afeto, ou o desafeto que temos assistido nas nossas relações interpessoais.
Outro dia estava com Mariana numa anti-sala de uma médica que é pediatra e clínica e fiquei observando a forma que as mães tratavam seus filhos.
Observava as mães porque ainda são elas que levam os filhos para o pediatra, ou melhor são elas, ou nós, que nos ocupamos dos cuidados dos filhos e filhas. Apesar de não me incluir nesse modelo pois tenho um companheiro bastante cuidador, me incluo como mulher.
Voltando as minhas observações...Verificava enquanto aguardava, a dureza com que boa parte dessas crianças eram tratadas. Via que as mães tinham as melhores das intenções. Queriam educar seus filhos ensinando as regras sociais o mais cedo possível.
Crianças de talvez três anos sendo exigidas de manutenção da ordem e da colocação de papeis no lixo, etc. Outras de talvez cinco ou seis anos, que no meio da brincadeira com jogos ali disponibilizados para elas, se apressavam para guardar as peças rapidamente pois a mãe estava saindo do consultório e não gostaria de encontrar aqueles brinquedos “desarrumados”.
E eu ali olhando aquelas cenas que desenrolavam na minha frente pensei. Onde está o afeto? Quem está ocupado em dar afeto nas relações com as crianças? Por que precisamos impor tantas regras como se quiséssemos que nossas crianças rapidamente se preparassem para serem adultas?
Nessa mesma semana assistindo a um telejornal vi e ouvir uma reportagem falando dos “vestibulinhos”. Cursinhos preparatórios para garotas e garotos de dez, onze anos, entrarem em determinadas escolas, pois as vagas são em menor quantidade do que os interessados nelas. Eu olhava aquelas crianças dando entrevistas e falando das suas rotinas e me perguntava. Cadê a infância dessas crianças, o brincar, o tempo livre, a possibilidade de experimentar o mundo de forma irresponsável e protegida?
E voltei a pensar, onde está o afeto? Estamos construindo seres cada vez mais racionais, competitivos e sem afetividade. Falar de amor, carinho, afeto em geral é quase uma inadequação no mundo contemporâneo.
Pensei em mim nas minhas distâncias do afeto. Na minha necessidade de racionalizar a minha vida e decidi que quero resgatar o afeto nas minhas relações.
Quero para Maria Cohim um mundo de muito afeto e acho que ela já trouxe benefícios para minha vida ao me possibilitar esse resgate com a doçura da vida. É uma aprendizagem, mas estou completamente aberta para esse novo olhar.
Meu convite para você é que possa dar e receber afeto, tenho certeza que o mundo fica bem mais legal assim.




1 Comentários:

Anonymous denis disse...

Ah Deb... mas dar afeto, demonstrar afeto é sinal de fraqueza. Temos que ser "firmes", "fortes", "seguros". E parece que isso não combina com afeto, carinho, gentileza.
Conhecemos Roberto, que foi um super diretor de uma super empresa e que largou tudo. Ele conta que o sinal definitivo foi quando no meio de uma reunião super importante ele teve vontade de chorar. Largou tudo. Por infinitas razões, mas também porque não dá pra chorar numa reunião de diretoria e esperar que alguém se levante pra te abraçar. É uma excelente tarefa, a de resgatar os afetos que tivemos nós quando crianças.
[Acho que esta semana vou tomar um café na casa da Dineuza...]

8 de dezembro de 2011 às 19:29  

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