BRIGAR PELA VIDA E NÃO COM A VIDA
Ontem,
voltando do sepultamento de um tio meu, no interior do Estado, comecei a
refletir sobre as mudanças de planos que a morte impõe às pessoas. Para quem
morre é uma interrupção imediata, definitiva e drástica de todos os planos e
projetos. Para os demais os impactos são de proporções muito diversas. Desde
uma mudança de agenda para participar de sepultamento até mudanças mais
significativas, dependendo do grau de relação, etc.
Tinha
recebido um convite para participar de um curso sobre dislexia com um "bam
bam bam" do tema. Como convidada, eu não teria nenhum custo e
estaria adentrando numa área que começa a me interessar neste momento, a
educação.
Acontece
que a morte de meu tio jogou minha agenda e meus planos para as cucuias.
Voltando do interior,lembrei-me do curso que estaria perdido para mim e pensei
que este é o ano em que preciso aprender que não vale a pena brigar com a vida.
Alguns
acontecimentos, refletidos sobre o olhar dos ensinamentos e práticas budistas,
me levaram a compreender muito claramente que a vida tem uma dinâmica própria e
que, se os nossos projetos e planos não estão em consonância com os “da vida”,
não rola.
Observem
que muitas vezes fazemos um grande esforço para realizar determinadas coisas e
circunstâncias diversas mudam a rota e aquilo não acontece; outras tantas
coisas nos acontecem sem grandes empreendimentos pessoais, é como se caíssem no
nosso colo. A morte é a expressão máxima dessa dinâmica, mas sempre estamos
submetidos a ela.
Antes de
continuar falando dessas reflexões, preciso deixar claro que não estou falando
de ficar na janela olhando a banda passar. Precisamos fazer nossos planos,
escrever nossos projetos, esforçarmo-nos para realizar aquilo que acreditamos,
pois a vida não caminha só. Entretanto não devemos gerar um apego a esses
projetos, como se pudéssemos garantir a sua realização, mesmo quando tudo
parece que vai acontecer.
Para mim
o grande aprendizado que tenho conseguido é não permitir que as mudanças de
roteiro me impactem de forma avassaladora. Ontem, por exemplo, ao perceber a
impossibilidade de participar do curso, não fiquei remoendo aquela situação.
Muitas vezes, mesmo quando não temos mais o que fazer, que as coisas já se
definiram, ficamos remoendo o assunto mentalmente, lamentando, maldizendo a
situação. Deixar passar por nós aquele episódio de forma calma é uma sabedoria.
Claro
que, dependendo do nível de desejo que temos, a nossa expectativa aumenta e a
frustração da não realização também; assim o impacto é maior.
Mas, para mim, poder perceber
essa dinâmica, que está para além do meu alcance, tem me poupado sofrimentos prolongados.
Tenho aprendido a soltar as coisas que, de certa forma, já me escaparam. Se
pensarmos bem direitinho, as vezes somos muito "cabeça dura". Ficamos
presos, com nossos pensamentos, em coisas que já não têm possibilidade de
acontecer, buscamos brechas onde não existem, saídas em portas cerradas. Com
isto impossibilitamos a nós mesmos buscar roteiros novos, perspectivas novas,
cegos que ficamos no que não é mais possível.
É como se
aprendêssemos a nos mantermos equilibrados na prancha sobre as ondas. Se
tentarmos levar a prancha num movimento contrário, vamos nos esborrachar.
Precisamos aprender a olhar qual é o movimento que se coloca para nós em
cada momento e, para isso, é preciso parar, silenciar e perceber.
Estamos
acostumados com o movimento contrário a isso, ou seja não parar, continuar
agindo ininterruptamente, mexer cada vez mais para tentar controlar todos os
pratos como o equilibrista do circo.
Meu
convite, nesse meu recomeço de escrita para o meu blog, é aprender a diminuir o
ritmo, parar mais diante da vida, porém sem acomodação.
2 Comentários:
Flexibilidade é a palavra. Boas reflexões essas. E eu precisava ouvi-las agora...rs Ser como o bambum, vergar com o vento sem partir.
Beijos,
Excelente retorno! Adorei!
Pra mim, ficou forte o "aprender a soltar as coisas que, de certa forma, já me escaparam".
Ui...
E não nos abandone novamente!
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