É interessante que ao escrever sobre os ciclos e a importância de nos conectarmos com eles, no lugar de nos opormos, fui confrontada com o tema da morte de forma significativa. Escorpião na Lua nova, na semana passada, trouxe o tema de forma persistente para mim.
E o que seria a morte se não um ciclo da própria vida!
Não é possível pensar na existência sem olhar para a não existência. Considerando aqui existência e não existência numa perspectiva fenomênica. Assim o tema dos ciclos volta trazendo o inexorável ciclo de vida e morte.
Podemos pensar ainda nas tantas mortes que vivenciamos ao longo da nossa vida. A morte do corpo que nos impacta de forma mais dramática e significativa, mas também muitas e variadas mortes. Os amores que se acabam, os projetos que não seguem adiante, as despedidas de lugares e pessoas que nos vinculamos, as escolhas que nos obrigam a ter apenas um e abrir mão de todo o resto, enfim somos confrontados com a impermanência dos fatos o tempo todo.
Entretanto, insistimos em olhar para a nossa existência como se ela fosse constante, lidamos com nossos amores como se sempre houvesse um amanhã para dizermos o que sentimos, planejamos os nossos planos como se o futuro fosse uma garantia. Ou seja, vivemos numa grande ilusão!
É como se estivéssemos imersos num sonho acreditando que vivemos uma realidade concreta. Talvez nos agarramos a um modelo de vida linear e reacional para substancializar a nossa ilusão, ou melhor, foi o mundo racional e linar, inaugurado pela Era Mental, que nos colocou de forma tão dividida nessa ilusão.
A partir da ilusão da constância, do que na verdade é inconstante, não nos lembramos de buscar o nosso propósito. Se sempre haverá um amanhã, nos enganamos acreditando que haverá também um tempo mais propício para refletir sobre o propósito nesta veda. Isto para aqueles e aquelas que acreditam que temos algum propósito e que precisamos descobrir. Porque estamos tão focados no mundo espacial no qual o trabalho é seu propósito maior que não lembramos da busca do nosso Eu mais profundo e, portanto, do nosso proposito maior.
Para quem acredita na astrologia eu diria que a casa dez do mapa está ali com os sinalizadores de energia capricorniana piscando para nos indicar esse propósito.
Ôpa, astrologia, capricórnio, propósito? Isso é coisa dos tempos primitivos, antes de descobrirmos a nossa racionalidade e capacidade de dominarmos a natureza. Isso é coisa ultrapassada! Poderiam diz as pessoas que pensam logo existem, mas as que acham que existem para muito além dos seus pensamentos poderão ver sentido no que estou falando.
Mais uma vez também o tema do feminino surge como elemento importante nessa reflexão. É a partir do feminino em nós, todos nós, que podemos olhar para a existência de um ponto de vista não racional, considerando as muitas dimensões que nos habita ou que habitamos de forma absolutamente interconectadas, inclusive entre nós e os outros e entre os diversos eus que me constitui, como diria Jung.
Quando conseguimos ampliar o nosso olhar, conseguimos viver a nossa existência focada no aqui e no agora, lembrando que é só no aqui e no agora que podemos plantar nossas sementes, que poderão nascer ou não, mas em nascendo é importante sabermos o que queremos colher e portanto o que queremos plantar. Não podemos plantar urtiga e posteriormente colher grama verde e refrescante.
Assim também são nossas experiências. Nem sempre lembramos de onde surgiram experiências desagradáveis na nossa vida. Achamos, em geral, que é o mundo externo, fora de nós, o responsável. Quando elas são agradáveis, ai é que nem queremos pensar mesmo. Nos agarramos a elas como se fossem eternas.
Hoje começa uma nova lunação, a Lua entra no seu quarto crescente no signo de Touro, e é um ótimo momento para limparmos o terreno onde foram plantadas as sementes na Lua nova. Seria muito legal se aproveitássemos para meditar sobre a impermanência.
Podemos nos questionar mentalmente, o que se mantem estável, sem alteração nas nossas vidas, se existe alguém que nunca tenha morrido ou mesmo se somos os mesmos desde que nascemos. Meditar investigando profundamente sobre essas perguntas, que nos parecem obvias, mas que agimos como se não soubéssemos de forma tão obvia as respostas.
Seria muito bom também se conseguíssemos durantes esse próximo período lembrarmos, cada vez que somos impactados por alguma coisa ou com alguém, no lugar de reagirmos, lembrarmos, "Isso é impermanente, por isso vai acabar, por que gastar tanta energia reagindo com algo que não vai durar?"
O Sagrado em mim se conecta ao Sagrado em você! Uma linda Lua Crescente para todos nós.